Ressignificar é preciso!

Por Regional 24 Horas em 04/09/2023 às 10:04:48

Em tempos de reflexão em que nem tudo é expresso de maneira explícita, palavras, opiniões, sentimentos, cada uma das emoções permeiam espaços em ambientes diversos um tanto quanto tímidas eu ouso em dizer, isso porque compreender a nós mesmos nem sempre é fácil, falamos sobre tudo e sobre todos menos sobre nós e é bem normal fugirmos desse assunto, expor nossa intimidade exige autoconhecimento e certa dose de coragem.

Somos como um cofre que guarda preciosidades de valor imensurável, coisas que só nós somos capazes de dimensionar baseado na forma e intensidade com que nos afetam. Acumulamos de tudo um pouco ao passar de tantos anos e quase nunca entendemos o porque de algumas coisas que acontecem em nossas vidas deixando marcas profundas e nos fazendo pensar a respeito, não compreendemos as razões pelas quais estagnamos em certos pontos, por que nosso relacionamento não está exatamente como gostaríamos, por que seguimos fazendo um trabalho que não nos dá satisfação, enfim os questionamentos são infinitos.

Mas existe algo em nós que acabamos escondendo e negando de maneira tão profunda que pode ser um dos, senão o maior de todos os vilões, a causa de muitas das nossas infelicidades e frustrações. A culpa! Sim é isso mesmo. O sentimento de culpa além de frustrante, paralisa nossos potenciais, leva embora nossa capacidade de enxergar além daquilo que os olhos veem, esse sentimento de culpa nos destrói, vai corroendo aos poucos a própria dignidade.

Acreditamos, na grande maioria dos casos, não sermos merecedores da alegria, do prazer, merecedores de viver plenamente os nossos sonhos e isso acontece principalmente quando dividimos nossa vida com um companheiro, com os filhos, com a família, que são nossos laços mais fortes. Certo é que costumamos querer mostrar algo que nem sempre faz parte do nosso íntimo. Não é nosso desejo real. Trabalhamos demais, nos doamos demais, na busca de alcançar aquilo que pode estar além de nossas condições físicas, emocionais ou até mesmo financeiras...

Desejamos suprir as necessidades do outro. Ou será que simplesmente tentamos ocultar a ausência de tantas ocasiões nas quais deveríamos ser e estar mais presentes? Nos tornamos mestres na arte de disfarçar conduta, caráter, personalidades intrínsecas, disfarçar nossas lágrimas através de um sorriso sem expressão logo após sair do banho, onde costumamos deixá-las escoando pelo ralo para que ninguém veja nosso pranto. Anulamos nossas dores porque acreditamos ter falhado em algum momento e por certo falhamos mesmo e nos reconhecemos então merecedores de alguma punição. Fato é que acabamos esquecendo de nós mesmos e um dia a ficha cai. Não sabemos mais quem realmente somos, nos tornamos pessoas tristes, apáticas. E é aí que a culpa chega sem dó, cutuca fundo na gente.

A culpa questiona e põe em dúvida cada um dos porquês e ao parar pra pensar, percebemos que as razões são infinitas! Resta saber se valeu a pena abrir mão de nossa essência para viver falsas expectativas, uma vida baseada em superficialidades, empolgações momentâneas, se valeu a pena fugir daquilo que deveríamos ter sido e ter feito desde o início para seguir conselhos e opiniões alheias e o que ainda é pior, se valeu a pena fugir da responsabilidade que tínhamos para conosco. Burlamos nossos ideais e o que restou disso tudo nos faz sentir culpados. Mas ainda há tempo e nem tudo está perdido. Somos seres em constante evolução e ressignificar os contextos nos traz de volta à vida, nos torna mais fortes. Existe um ditado que diz algo que se lê em alguns lugares há bastante tempo que, de tudo que nos acontece "SE NÃO É MISSÃO É LIÇÃO" e eu particularmente acredito muito nisso e tenho estado em busca de encontrar a mim mesma já faz algum tempo, posso afirmar que os resultados têm sido incríveis! Então faça isso por você também, desacelere e reflita pelo tempo que for necessário e busque se desfazer das culpas, encare seus medos, resgate sua essência, procure entender quem é de verdade... Você merece ser feliz!

Ressignificar é preciso!


"Eu nem sempre fui assim e já soube existir em muitas versões. Outras de mim! Escolhas minhas? Nem sempre! Apenas julgava ser algo conveniente. Acreditei em verdades que nunca existiram. Por vezes, e foram muitas, apostei em sonhos que não eram meus, fui levando a vida, passando o tempo, colecionando objetos e juntando emoções, separei sentimentos, fatos e ocasiões, em espaços distintos, cataloguei cada um. Fiz um arquivo só meu! Um tempo de intensidade que se vive por inteiro, pelo menos era assim que eu pensava, era o jeito que eu via. Acreditei de fato que estava vivendo. Os dias passavam rápido, as horas pareciam voar, tudo ia acontecendo enquanto eu passava pelo tempo...

Ou será que era ele quem passava por mim!? É difícil dizer. Eu mesma não entendo. Não percebi muitas coisas, custei demais a enxergar, e quando a conta chegou me cobrava por dívidas que eu simplesmente desconhecia. Por óbvio que neguei! Me recusava em pagar por algo que não era meu. Esbravejei exigindo explicações. Mas estava tudo lá! Só fui entender quando lendo cada item de uma lista extensa e cruel enxerguei as sombras que faziam companhia e serviram de suporte, na verdade desculpas que dei durante tantos anos... Substitutas de uma vida que pareceu ser real, por tanto tempo, só agora eu vejo que estava equivocada. De real houveram apenas os momentos de ordem prática e quem ainda os vive por certo me entenderá... Na lista de minhas dívidas estavam a falta que eu fiz, os passeios que perdi, os almoços em família nos quais eu não pude ir, as férias que eu não tive, presentes que eu não me dei, os abraços e os beijos que não recebi e tão pouco doei, as despedidas sem emoção... Meu tempo era curto e embora eu tanto fizesse, sempre faltava algo. Ilusão!

A imagem que eu tinha de mim era apenas um esboço, um rabisco imperfeito. E tu me faz ver agora tudo que ficou perdido, reflexos de escolhas mal feitas, pensamentos confusos, um ser apressado e em muito obtuso, supria necessidades, vaidades alheias. Uma forma de compensar tantas ausências. E eis que tu chega em minha porta de um jeito desajustado, te mostrando impaciente, impiedosa comigo, querendo arrancar de mim algo que te neguei uma vida inteira... Sinceridades! Na verdade neguei a mim mesma.

Não reconheci teus traços, nem o som da tua voz, foi sutil por tanto tempo e agora esbarra em mim com força, esperar não é mais possível. Ah CULPA que consumiu o meu ser e hoje me vem em forma de cura, desnudando minhas falhas, transformando tudo em mim... Ressignificar foi preciso e eu já não sou mais a mesma. Refiz os meus planos, resgatei alguns sonhos, repassei cada contexto e te trago comigo como lembrança distante e a tudo que sobrou pus então resiliência, com a lição que aprendi em ser o melhor de nós duas.. Sou meu EU em EVIDÊNCIA!"

Cláudia Oliveira

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