Vento que me traz... Lembranças!

Por Regional 24 Horas em 11/10/2023 às 10:18:39

Querido leitor, algumas vezes na vida somos surpreendidos, invadidos por sentimentos e emoções que nos tiram por alguns instantes da realidade vivida e nos remetem a um tempo que já não está mais a nossa disposição. Isso acontece por motivos diversos, alguma coisa que nos faz relembrar de um acontecimento distante, uma pessoa, um gesto, um toque, um cheiro, enfim algo que mexe dentro da gente de um modo diferente, especial eu diria.

Nada incomum a gente sentir saudade de algo que aconteceu e que ficou lá atrás, no passado. Recordações são sensações incríveis, fazem a gente passear no tempo, chegam a qualquer instante sem aviso, sem nos pedir licença, simplesmente se aproximam e arrancam de nós um sorriso no canto da boca, um brilho diferente nos olhos, um pulsar mais acelerado em nosso coração, às vezes até algumas lágrimas.

Certo que nem sempre são assim tão bonitas ou agradáveis mas, fato é que sejam quais forem as nossas lembranças, sempre irão acrescentar alguma coisa, talvez até possam transformar a forma que se tem de enxergar o que houve, é preciso porém estarmos sim com a mente e o coração abertos, buscar um novo sentido.

Quando estamos dispostos a entender, aceitar e acolher em nós certos comportamentos ocorridos em ocasiões que já não podem mais ser alteradas é como se a gente pudesse passar a limpo uma história de um jeito mais leve, fica um pouco mais bonito e percebemos então que não precisa doer, restarão apenas as sensações que emocionaram e que deram cor e brilho aos momentos que não voltarão, mas que marcaram vidas, nos fizeram sentir únicos, protagonistas de cenas que talvez até se repitam mas agora... Em outros cenários! Reavalie seus conceitos. Aprenda a relembrar com carinho e tudo se tornará mais leve!

Vento que me traz... Lembranças!

"E eis que me surpreende ao chegar assim, sem aviso. Em ocasiões distintas de um jeito tão singular, quando se faz sentir de maneira adversa... por vezes forte demais saciando tua pressa chega e desarruma tudo, sem esperar permissão leva o que tem pela frente, outras vezes no entanto te aproxima mansamente, tão sublime e sereno, quase imperceptível, vem pairar em minha volta, te queixa de minha ausência e suplica, querendo ficar ali pra sempre, como quem observa a distância um riso soprado, um pranto escondido, um beijo roubado... Me abraça com calma, envolve meu corpo, beija-me a face e traz lembranças de um cheiro bom, perfume que já senti, sublimei em momentos que guardei em mim e que ainda me causa certa inquietação. Foram especiais! Os momentos? Sim, e o cheiro também! As lembranças? Sim, as lembranças e o brilho dos olhos que vi pela última vez a despedirem-se de mim, sem que eu ao menos soubesse... Não pude impedir. Não me foi permitido. Ficou o perfume marcando um tempo, um fato importante, o amor que eu tive, meu próprio descuido em momento de distração, arrebatamento. Sem escolha segui, precisei ir adiante, deixei de chorar, não quis entender, só sentia que amar era apenas sinônimo de sofrer, ao menos naquele instante...Só agora eu sabia, sentia e fingia, sem deixar transparecer! A ninguém importava. Mas o tempo ajeita tudo e o vento disfarçado em outros nomes, outras bocas, residente em outros corpos, se encarrega de dispersar a dor, o pranto, o sofrimento, o desencanto, do mesmo jeito que também sacode a gente fazendo barulho, sussurrando ao ouvido que ainda dá tempo... É preciso viver! Amar outra vez! É preciso arriscar-se porque... nunca é tarde demais! E eu entendi, me levantei, persisti! Reuni meus pedaços, refiz um contexto, firmei os meus passos, renasci.

E agora tu chega, vem trazendo contigo tantas recordações. Sim. Tu traz, revive e refaz eu sentir tudo outra vez! Não fosse tua chegada vindo sei lá de onde, sem saber porque motivo, eu estaria em paz, no mesmo lugar de sempre, absorta em afazeres que ainda ocupam meu tempo, perfazem meus dias, mas que jamais preencheram a falta de tudo que deixei lá atrás, guardado, esquecido, na verdade escondido, porque esquecer de verdade também não me foi permitido... O vento e tuas lembranças sempre foram tão iguais chegando e partindo, deixando-me aqui, a espera de uma incerteza. Eu ouvia teu riso, tua conversa agitada, as desculpas de improviso quando olhando em meus olhos dizia ter compromissos... mentiras insanas, falsidades camufladas, migalhas que tu me dava, muitas vezes foi assim, e eu sempre acreditava, jamais questionei, aceitava. Ingenuidade!? Inocência!? Não, eu apenas te amava. E não me arrependo.

Dei o melhor de mim, e tive de ti tudo que foi possível, a gente dá o que tem e afinal entendi, transformei em meu íntimo o teu existir, cuidei de ti, te guardei... com carinho, com calma, em meu coração e aquietei minha alma. Foi melhor assim. O tempo passou. Hoje amo sem dor, compreendo teus motivos, não guardo rancor e sou capaz de sentir o mesmo cheiro que vem com o vento a provocar emoções, razões que já não machucam. Aprendi a reconhecer o teu toque que quando desajustado me encontra busca em mim os anseios, desejos não saciados, tudo que não fizemos... E quando chega em silêncio apenas me faz sentir saudade e lembrar do perfume que marcou um tempo... passado, vivido. Tempo que eu quis guardar!"

Cláudia Oliveira

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